quinta-feira, 18 de março de 2010

Não envie torpedos no trânsito

Prática é mais perigosa do que falar ao celular, alertam especialistas em transporte

Outros países já pesquisam fenômeno e elaboram leis específicas contra SMS ao volante; no Brasil, discussão sobre o assunto engatinha

por Leticia de Castro

Após levar duas multas por falar ao celular enquanto dirigia, o ator Bruno Perillo mudou a tática para otimizar o tempo no trânsito. Trocou as ligações pela comunicação via torpedos.
No fim do ano passado, avisou aos colegas por SMS, enquanto segurava o volante com apenas uma das mãos, que chegaria atrasado ao ensaio da peça da qual estava participando.
''Sei que é errado. Mas, em emergências, já recorri ao torpedo enquanto dirigia. É mais fácil do que ligar'', afirma o ator.
Na era do smartphone, o trânsito virou quase uma extensão do escritório. A facilidade de acesso à internet e as mensagens de texto tornaram faróis fechados e congestionamentos num pretexto para resolver pendências. Especialistas alertam, porém, que enviar torpedos ao volante é mais perigoso do que falar ao celular. O risco da prática é maior, inclusive, do que dirigir embriagado.
Embora não haja estatísticas sobre o número de pessoas que enviam mensagens no trânsito, a popularização desse hábito preocupa especialistas da área. ''É mais perigoso que falar ao telefone'', diz Fabio Racy, diretor de relações institucionais da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).
De acordo com ele, além da distração provocada pela mensagem, a principal ameaça que o SMS representa à segurança no trânsito decorre da necessidade de o condutor desviar o olhar da rua para o aparelho. ''Sem a visão, as chances de um acidente são muito maiores.''
Nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália, o assunto já é alvo de pesquisas. Levantamento do instituto Pew Internet and American Life Project, com adolescentes americanos, detectou que 32% dos entrevistados de 16 e 17 anos já tinham enviado mensagens de celular enquanto dirigiam -lá é possível ter habilitação aos 16 anos.
A disseminação da prática fez soar o alarme no Ministério de Transporte dos EUA. Segundo o órgão, 6.000 morreram em acidentes de carro envolvendo motoristas distraídos em 2008.
Neste ano, o governo americano baixou norma vetando especificamente o envio de torpedos por motoristas de veículos comerciais. Nem todos os Estados proíbem o uso do celular ao volante. Mas em 20 deles há lei específica contra torpedos.
No Brasil, o celular é proibido ao volante em todo o país. O debate sobre torpedos, porém, ainda é incipiente. ''Deveria haver discussão mais ampla'', diz Orlando Lima, do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes da Unicamp.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo diz que o número de multas por uso do celular ao volante aumentou 22% de 2008 para 2009. Não discrimina, porém, quantas envolveram torpedos.
Para Sérgio Ejzenberg, mestre em engenharia de transporte pela Escola Politécnica da USP e perito em acidente de trânsito, ainda que fossem criadas leis específicas para SMS, a fiscalização seria muito difícil. ''A melhor forma de prevenir é a conscientização'', afirma ele.

Folha de São Paulo

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