Reunião do Grupo de Trabalho de Mobilidade Urbana do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, marcada para o dia 28, definirá a data em que os sete municípios passarão a multar os motoristas que desrespeitarem a travessia dos pedestres na faixa de segurança. No entanto, ainda são notórias a imprudência e a falta de conscientização por parte de algumas dessas pessoas que se locomovem a pé e arriscam a vida pelas vias públicas da região.
A equipe do Diário percorreu, por dois dias seguidos, as regiões centrais de Santo André, Mauá e São Bernardo, onde várias irregularidades cometidas por pedestres foram registradas. Vale lembrar que o CTB (Código de Trânsito Brasileiro), no artigo 254, prevê multa aos pedestres que desobedecem as leis de trânsito (veja quadro abaixo), mas a medida ainda não foi regulamentada, e, portanto, os fiscais não podem aplicar a penalização.
Em Santo André, no entorno do terminal rodoviário, há várias faixas que dão acesso ao local. Mesmo assim, muitos não respeitam a travessia segura, nem mesmo o sinal vermelho. Foi o caso de José Nilton Araújo Silva, 37 anos, ao atravessar entre os carros que esperavam o semáforo abrir. "Não prestei atenção. É hábito ruim, mas é automático", disse o auxiliar de manutenção. Silva acredita que as políticas públicas precisam mudar. "O pedestre não vai se conscientizar sozinho", retrucou.
DGABC
O auxiliar de manutenção, porém, desconhece não só os direitos e deveres dos pedestres, como a Campanha Travessia Segura, lançada em dezembro pelo Consórcio Intermunicipal. A ação educativa é trabalhada, ou deveria ser, pelas sete administrações municipais. A entidade avalia que o foco nos condutores é importante para garantir a segurança dos pedestres - ainda que muitos extrapolem no trânsito.
Para a arquiteta e urbanista Silvana Maria Zioni, a campanha é uma forma de pensar as cidades como espaços coletivos e de situações equivalentes para todos. "Apoio as faixas de segurança, até porque o pedestre é o elemento mais vulnerável nessa relação", opinou a professora adjunta da UFABC (Universidade Federal do ABC).
São Bernardo
Em São Bernardo, ao redor do Paço, os pedestres têm a opção de atravessar pela faixa ou passarela. Mas pressa e comodidade fazem com que arrisquem a vida em atitudes perigosas. "Se vejo que não tem carro vindo, não tem problema", afirmou o jovem Bruce York, 20.
As amigas Natalia Lopes, 16, e Beatriz Zambelo, 16, de São Bernardo, também não se importam em atravessar fora da faixa. "Estamos com muita pressa e pela passarela é demorado", afirmou Natalia.
Consciente do perigo, a estudante Pamela Ferreira, 16, de São Bernardo, acha arriscado não usar os meios legais e seguros de travessia. Mesmo assim, costuma cruzar a rua em locais perigosos. "Pelo menos perto da escola (ETE Lauro Gomes) deveria ter semáforo."
Outra reclamação dos entrevistados ouvidos pelo Diário é quanto à segurança na passarela. Muitas pessoas, principalmente mulheres, têm medo de serem assaltadas durante o percurso.
Subcoordenadora do Grupo de Trabalho de Mobilidade do Consórcio, a engenheira Cristina Baddini disse que a campanha de conscientização de motoristas e pedestres prossegue em cada município. As ações estão divididas, segundo a especialista em trânsito, em engenharia, educação e fiscalização. E trabalhadas, até agora, por categorias: taxistas, escolas, motoristas de ônibus e prefeituras.
Mais reclamações
Tânia Regina Ribeiro, 47, também costuma atravessar no vermelho e acredita que não é apenas o pedestre que infringe a lei. "Às vezes, o motorista é muito mais mal- educado."
O conferente Fernando Silva, 28, geralmente cruza a rua fora da faixa, mas pensa o mesmo. "Motoristas e pedestres estão lado a lado na falta de educação no trânsito."
Em 1999, Brasília virou modelo para o País com campanha
Em 1999, Brasília protagonizou maciça campanha pela paz e segurança no trânsito, inclusive programa de respeito à faixa de pedestres. Baseada em experiência modelo para o País, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC pretende obter o mesmo sucesso.
"Brasília está aí de exemplo. A mudança de atitude entre motoristas e pedestres se deu por um período curto e rápido. Podemos, sim, mudar isso aqui", afirmou Silvana Maria Zioni, professora com ênfase em Planejamento e Gestão Urbana da UFABC.
O que foi compartilhado por Cristina Baddini, diretora de Transportes da Prefeitura de São Caetano, além de subcoordenadora do Grupo de Trabalho de Mobilidade Urbana do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. "Aqui também é possível dar certo. Tudo depende de mudança de comportamento de motoristas e pedestres", afirmou.
Cristina ressaltou que das 100 mortes de trânsito por dia, 50 são relativas a atropelamentos, segundo dados da campanha da ONU (Organização das Nações Unidas) de redução de mortes e acidentes.
Os pedestres são marginais porque são tratados como se não existissem pelos motoristas. O CTB também prevê que veículos de maior porte são responsáveis pela segurança de veículos de menor porte e pedestres, mas a maioria dos motoristas conduz apenas com atenção nos riscos que pode sofrer e não nos que pode causar. É inútil um pedestre caminhar até um local "seguro" para a travessia tendo a certeza da impunidade dos veículos, de que essa travessia não será segura. Uma das entrevistadas cita a questão da demora. Com faixas e passarelas bem sinalizadas e posicionadas, um pedestre já incluí esse recurso automaticamente em seu percurso ao pensar no caminho que deverá fazer. A educação no trânsito precisa melhorar muito, mas ensinar que essa é a forma certa de se atravessar uma rua já acontece nas escolas (também está prevista na lei). Se essa questão dos carros se resolver, a questão do pedestre também se resolve com o tempo, mas além de melhoria na educação e sinalização, fiscalização e punição adequadas também para o pedestre poderiam de fato acelerar esse processo em busca de um trânsito menos violento.
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