quarta-feira, 17 de junho de 2009

Entrevista com Bill Presada sobre o uso de bicicletas

Presidente da Comissão de Bicicletas da ANTP, Bill Presada, defende a integração da bicicleta com o transporte público urbano.

Bill Presada participará do Seminário Nacional: Política de Transporte Cicloviário, que acontece nos dias 18 a 19 de junho - quinta e sexta-feira desta semana - no Sorocaba Park Hotel,Rua Prof. Joaquim Silva, 205 – Sorocaba-SP, telefone 15-2101-2805.

”O grande segredo quanto ao uso da bicicleta é a integração com os outros meios de transporte. Isso evita que a pessoa tenha que depender apenas na bicicleta como seu meio de transporte. Com a integração, eu deveria poder ir de bicicleta, percorrendo a distância que me separa de uma estação de metrô ou de trem, ou ainda de um terminal de ônibus, e nesses locais encontrar condições de deixar minha bicicleta de forma segura, usar o transporte público para ir trabalhar e voltar até a estação, pegar minha bicicleta e retornar para casa”. As palavras são o presidente da Comissão de Bicicletas da ANTP, Bill Presada, ao ressaltar a oportunidade da realização do Seminário Nacional: Política de Transporte Cicloviário, promovido pela ANTP e pela Empresa de Desenvolvimento Urbano e Social de Sorocaba (Urbes).

Presada prega um esforço para conscientização dos administradores públicos, motoristas, ciclistas e da sociedade em geral para reduzir riscos e conflitos envolvendo bicicletas, veículos maiores e mesmo pedestres além de aceitar a bicicleta como um meio legítimo de transporte que pode ajudar a solucionar alguns problemas das nossas cidades.


ENTREVISTA -

ANTP – Qual a importância do Seminário Nacional: Política de Transporte Cicloviário, que a ANTP, em parceria com a Empresa de Desenvolvimento Urbano e Social de Sorocaba (Urbes), promoverá nos dias 18 e 19 de junho, em Sorocaba?

Bill Presada – É um momento propício para este debate nacional, porque cresceu muito a presença da bicicleta no meio urbano. Hoje, todo mundo aceita a bicicleta como um meio de transporte política e ecologicamente correto, e tem a bicicleta como um veículo saudável. Os políticos, as pessoas que participam da cúpula decisória em nossas cidades, os nossos governantes, aceitaram a bicicleta como um meio que também pode garantir promoção e dividendos políticos. Então, temos que aproveitar essa situação e sensibilizar as pessoas sobre o fato de que a bicicleta é um meio de transporte viável em qualquer cidade. Mostrar que a bicicleta não é um problema e, sim, uma solução.

ANTP – No Brasil, as bicicletas vêm sendo usadas para lazer e mais recentemente percebe-se o crescente uso desse veículo para transporte, em especial para os locais de trabalho. Mas há a questão da segurança no trânsito, já que a cidade, por assim dizer, é do automóvel. O que dizer disso?

Bill Presada – A gente concorda que o trânsito é perigoso. Todo mundo acha isso. E é perigoso para todos: para os que estão dentro do trânsito e para os que estão fora, inclusive para os pedestres. Mas, andar de bicicleta dentro do trânsito não necessariamente precisa ser perigoso. A meu ver, o problema é como educar o ciclista e o motorista para que convivam pacificamente. De fato, em boa medida, a bicicleta é vista como veículo de lazer, mas é preciso entender que, quando alguém coloca a sua bicicleta na via, ela já não é mais só um instrumento de lazer, e passa a ser um veículo de transporte. Nem sempre isso é percebido, porque boa parte das pessoas acaba se perdendo na magia da bicicleta – e a bicicleta é uma coisa para cada pessoa. Eu digo que para alguém se sentir à vontade no trânsito e andar de bicicleta em qualquer lugar de São Paulo é preciso sentir-se inteiramente ciclista; não dá para ficar num meio termo. Há pessoas que dizem “quero usar minha bicicleta de vez em quando”. Com esse “de vez em quando”, a pessoa não se comporta nem como ciclista de lazer, nem como ciclista que usa a bicicleta como meio transporte.

ANTP – E quanto ao esforço que se observa de integração da bicicleta com os sistemas de transporte público?

Bill Presada – Para mim, o grande segredo quanto ao uso da bicicleta é a integração com os outros meios de transporte. Isso evita que a pessoa tenha que depender apenas na bicicleta como seu meio de transporte. Com a integração, eu posso ir de bicicleta, percorrendo a distância que me separa de uma estação de metrô ou de trem, ou ainda de um terminal de ônibus, e nesses locais encontro condições de deixar minha bicicleta de forma segura, usando o transporte público para ir trabalhar e voltar até a estação, pegar minha bicicleta e retornar para casa. É claro que precisamos respeitar o direito daqueles que optarem por usar a bicicleta como seu meio principal de transporte. Penso que ainda temos uma grande caminhada até chegar ao desejado equilíbrio: controlar o trânsito e ao mesmo tempo não perder aquela sensação de liberdade que a gente tem com a bicicleta.

ANTP – O seminário terá um outro fator importante que é justamente promover esse debate com a participação do administrador público.

Bill Presada – O administrador público precisa se inteirar sobre o que é a bicicleta - o ciclista está cansado de ver gente que não conhece e que não anda de bicicleta dizer para ele o que ele precisa fazer e como deve se comportar. Um segundo aspecto: mesmo nas cidades brasileira mais esclarecidas sobre a questão da bicicleta, e também na Europa, ou nos Estados Unidos – não pensa que é tudo mil maravilhas lá fora! – os conflitos entre bicicletas e carros afloram a cada instante. Mas o administrador da cidade tem que se inteirar a respeito de como a bicicleta pode (e deve) fazer parte do trânsito. As autoridades sobre as vias tem que aprender como integrar a bicicleta no sistema viário. E nada melhor do que trocar idéias com aqueles que já fazem isso – ou por necessidade , ou por escolha e vontade própria ou simplesmente porque não podem ou não querem dirigir.

ANTP – Falta informação? Falta conscientização?

Bill Presada – O administrador, muitas vezes, entende que a bicicleta é mais um estorvo; acredita que ela irá competir com o carro pelo espaço urbano, e que trará problemas, em vez de soluções. Então, é importante que os especialistas, os ciclistas, os ativistas, o pessoal de fora que virá ao seminário de Sorocaba mostrem aos administradores públicos que a bicicleta não é um monstro de sete cabeças. Entendo que possa ser ‘eventualmente’ perigoso, mas não é ‘necessariamente’ perigoso andar de bicicleta no trânsito. É preciso que os responsáveis pela mobilidade nas cidades compreendam quais são as necessidades da bicicleta e o que ser feito para garantir a convivência da bicicleta com outros veículos. É preciso alcançar também os comerciantes; muitas vezes, o pessoal do comércio resiste à implantação de uma ciclovia, achando que esse tipo de equipamento vai tirar seus clientes, quando, na realidade, estudos feitos no Exterior mostram que é oposto: com a ciclovia, o ciclista visita mais a loja e acaba gastando mais no estabelecimento.

ANTP – Há também a questão do comportamento dos ciclistas; muitos deles geram ou conflitos ou situações de riscos para si próprios e para os outros. Cito três situações: o ciclista que trafega na contra-mão, aquele que trafega pelas calçadas e os que fazem ‘maluquices’ no trânsito para fazer entregas.

Bill Presada – Sobre as situações um e dois: andar na contra-mão e andar na calçada são práticas proibidas pelo Código de Trânsito Brasileiro. O problema é que alguns ainda acham que é mais seguro andar na contra-mão e é mais seguro andar na calçada. Mas porque eles acham isso? Porque ainda não se desenvolveram com ciclistas e se sentem inseguros na via. Leva tempo para alguém irá se sentir seguro para usar sua bicicleta no trânsito - não é de um dia para o outro que isso acontece. È mais ou menos como dirigir uma carro: você não sai nas avenidas mais movimentadas da sua cidade logo no primeiro dia em que recebeu sua carteira nacional de habilitação; então, por que faria a mesmo coisa com a bicicleta? Quanto àqueles que trabalham com a bicicleta é preciso sensibilizá-los sobre um fato: se quiserwm ser respeitados, têm que respeitar os outros e as leis de trânsito que também se aplicam à bicicleta, seja ela de lazer ou de trabalho.

ANTP– É preciso, então, um esforço visando à conscientização sobre a bicicleta?

Bill Presada – A base de tudo é a educação e o bom senso. Existe a Semana do Trânsito, mas a bicicleta nunca foi incluída. Precisamos de campanhas nacionais, precisamos de ações de esclarecimento, de panfletagens, e de mais seminários como esse que será realizado pela ANTP. Esse esforço pode começar a mudar a atitude doa políticoa e das autoridades de trânsito em relação a esse meio de transporte que é mais uma alternativa dentro do conjunto de meios de transporte que nós temos.