No momento em que o transporte público do Rio de Janeiro mais uma vez
é colocado em prova, com o fluxo de autoridades e delegações da Rio+20,
gestores públicos e empresários discutem soluções de mobilidade urbana
no fórum Megacidades 2012 Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano,
um dos eventos paralelos à conferência da ONU. O encontro no Parque dos
Atletas, na Barra da Tijuca uma das áreas que mais sofre com problemas
de transporte na cidade começou na quinta-feira e termina nesta
sexta-feira, com objetivo de debater ideias e experiências capazes de
aliar o transporte de massa e o conceito de sustentabilidade.
Na abertura do fórum, palestrantes como Enrique Peñalosa, ex-prefeito
de Bogotá, e Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, defenderam que os
automóveis assumam um novo papel dentro das metrópoles. Ambos apontam
alternativas ao discurso radical que prega a extinção dos carros. Em vez
disso, recomendaram que automóveis sejam utilizados como solução de
transporte nas grandes cidades. A ideia consiste na oferta de um serviço
de aluguel de carros elétricos, é claro como alternativa ao veículo
particular, um sistema que começou a ser implementado em Paris no ano
passado e é bastante parecido com o de aluguel de bicicletas,
recentemente importado da capital francesa para o Rio de Janeiro.
Responsável pela bem sucedida implementação do Ligeirinho (ou BRT
Bus Rapid Transit) em Curitiba, Lerner, que é arquiteto e urbanista,
mostrou seu novo projeto, o Dock Dock. Trata-se de um veículo movido
exclusivamente a energia elétrica, com capacidade para uma única pessoa,
velocidade máxima de 25 quilômetros por hora e autonomia de até 100
quilômetros sem recarga. O modelo, construído principalmente de papel,
ainda tem a vantagem de ser quase totalmente reciclável as exceções são
os pneus e a bateria.
O Dock Dock é feito para andar nas ciclovias. Não adianta termos
carros que atingem 150 quilômetros por hora, mas têm que andar a 9
quilômetros por hora por causa dos engarrafamentos. O
carro elétrico
é fantástico, mas também temos que pensar na melhor maneira de usá-lo,
explicou Lerner, que recebeu do secretário estadual de Transportes do
Rio, Júlio Lopes, a promessa de apoio para a instalação de uma fábrica
do Dock Dock no estado.
BRT, bicicletas e transporte aquaviário O colombiano Enrique
Peñalosa defendeu a restrição do uso de carros (ele implementou uma
espécie de rodízio de placas, em Bogotá) e até mesmo a redução ou
extinção das vagas nos condomínios residenciais.
Carros não são demônios. Não odiamos os carros. Mas depende de como
nós os usamos. Em Vancouver, temos condomínios que até possuem vagas
para carros, mas eles são compartilhados entre os moradores. É como no
sistema de aluguel de automóveis, disse Peñalosa, que também defendeu o
uso da bicicleta como transporte urbano, citando como exemplos a Holanda
e a Dinamarca.
Peñalosa defende o aumento da carga tributária sobre automóveis para
financiar alternativas mais sustentáveis de transporte de alta
capacidade.
Deveríamos cobrar mais impostos sobre os carros e combustíveis para
financiar investimentos em transportes públicos, mas sabemos que é muito
complicado politicamente, disse. No momento, no Brasil, há uma nova
corrida aos carros zero quilômetro, criada a partir da redução de IPI e
dos juros para aquisição de veículos com financiamento.
Entusiasta dos BRTs, o ex-prefeito de Bogotá questionou o
investimento do Rio de Janeiro para a melhoria da rede ferroviária, que
atualmente transporta 600 mil passageiros por dia.
Vocês querem
melhorar o transporte ferroviário no Rio, aproximando-o do que é o metrô
embora, sejam coisas diferentes. Mas o fato é que partem do
pressuposto de que os trens são a opção correta. Devemos questionar
isso. Se colocarem BRTs no lugar ocupado hoje pela linha do trem, vão
transportar duas vezes mais pessoas, provocou Peñalosa, sem detalhar ou
comprovar sua tese.
O transporte aquaviário também foi apontado como uma vocação natural
do Rio de Janeiro, detentor de uma extensa orla. Lerner defendeu a
adoção de um sistema de transporte inspirado no Vaporetto, de Veneza. O
secretario Julio Lopes aproveitou, então, para anunciar que estão sendo
feitos estudos para a criação de novos itinerários pela Barcas S.A,
concessionária que acaba de mudar de mãos. Entre os novos trajetos
analisados, estão o bairro da Barra da Tijuca e o município de São
Gonçalo, na região metropolitana. No caso da Barra da Tijuca, a ideia já
foi testada mas, no caso da Barra, a experiência foi um festival de
enjoos a bordo, com celebridades e convidados mareados com o balanço da
embarcação no mar agitado da região.
Fonte: Exame