sexta-feira, 4 de março de 2011

Cidades para as bicicletas

A frota brasileira de bicicletas é, atualmente, a quinta maior do mundo, estando atrás apenas da China, da Índia, dos EUA e da Alemanha. No entanto, se observamos as cidades brasileiras veremos que ainda estamos longe de atribuir a importância e a prioridade necessárias aos ciclistas que têm, na bicicleta, o seu modo preferencial para os deslocamentos.

A maior prova de que esse direito não é respeitado aconteceu na última sexta-feira, dia 25 com os ciclistas do movimento Massa Crítica em Porto Alegre. O condutor de um automóvel certamente não gostou de ver o trânsito atrapalhado por aquilo que eles provavelmente não considera um meio de transporte. O motorista usou o seu carro como arma. Alguns ciclistas foram diretamente atingidos, outros se machucaram pela reação em cadeia quando uma bicicleta foi derrubando outra. No final 15 pessoas foram parar no Hospital de Pronto Socorro. Os homens fugiram logo depois do ocorrido. As imagens divulgadas foram muito chocantes.

Alguns meios de comunicação não classificaram o “acidente” como tentativa de homicídio. Não há argumento que me convença do uso do termo “ACIDENTE”. Não existe lógica que leve a ele. Não há qualquer questionamento possível que permita considerar o fato como ocasional.

É muito importante frisar que o atropelamento certamente foi intencional. O motorista, deliberadamente, decidiu acelerar e abrir caminho passando por cima dos ciclistas. Há muitos condutores que entendem que a bicicleta atrapalha o trânsito e, portanto ela não tem direito à cidade.

Decretada a prisão de atropelador de ciclistas

Centenas de ciclistas protestaram nas ruas de Porto Alegre contra o atropelamento coletivo. À noite, de acordo com o promotor Eugênio Amorim, a Justiça decretou a prisão de Ricardo Neis, 47 anos, e o delegado Gilberto Montenegro anunciou que vai indiciar o motorista por tentativa de homicídio duplamente qualificado (por motivo fútil e de maneira tal que impediu a defesa das vítimas). Ele teria agido com a intenção de matar ao avançar com seu carro sobre o grupo de ciclistas.

Sexta feira passada, 2 mil pessoas se reuniram no Largo Zumbi dos Palmares em Porto Alegre às 19h e partiram pela Rua José do Patrocínio, para refazer o trajeto da fatídica bicicletada. Logo na saída da manifestação, o grupo começou a ganhar a adesão de simpatizantes, de outros ciclistas além dos moradores do bairro. Quando os manifestantes chegaram à esquina com a Rua Luiz Afonso, ponto onde ocorreu o atropelamento coletivo, o protesto atingiu um caráter simbólico. Centenas deles largaram as bicicletas e deitaram sobre o asfalto, em homenagem e solidariedade às vítimas do triste episódio.

É preciso remover mitos e preconceitos

Estima-se que no Brasil mais de 20 milhões de pessoas fazem uso da bicicleta pelo menos duas vezes por semana para se deslocarem ao trabalho. Este número representa apenas um terço da frota declarada pela Abra ciclo. Já com relação à frota de veículos, estima-se que circulem diariamente, 28 milhões de veículos com uma ocupação média de 1,3 passageiros por veículo. Temos, portanto cerca de 30 milhões de viajantes nos automóveis confrontados com 20 milhões de ciclistas. Basta avaliar e comparar o espaço que os automóveis ocupam nas cidades com o espaço utilizado pelos ciclistas. O grande problema é que a infraestrutura dirigida aos ciclistas não incentiva e não estimula nem mesmo os ciclistas tradicionais a fazerem uso da bicicleta com maior intensidade, muito menos conseguem atrair os usuários de outros modos de transporte.

Para que ocorra uma mudança significativa na mobilidade por bicicleta em nosso país, seria necessário traçar metas ousadas para os próximos anos. Urge contribuir para recuperar a qualidade de vida no planeta.

Viaje de bicicleta e aprenda a respeitar a bicicleta no trânsito.

terça-feira, 1 de março de 2011

Os desafios dos sistema de transporte passageiros de alta e média capacidade

O Grupo de Trabalho Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo, em parceria com a Comissão de Transportes da Câmara, promoveu o ano passado diversos seminários que resultaram em um documento com diretrizes para um “Plano Municipal de Mobilidade e Transportes Sustentáveis”. Deste processo resultou uma emenda ao Orçamento Municipal de 2011 , que destinou R$ 15 milhões para que o poder executivo faça um plano municipal de transportes e mobilidade, como o Plano Diretor da cidade exige.

Este ano, o GT quer aprofundar aspectos importantes do plano e vai realizar uma série de debates sobre o tema, subsidiando a sociedade civil para que participe efetivamente desta discussão. Além disso, continuaremos levando ao poder público as propostas sistematizadas por estudos, pesquisas e indicadores técnicos da situação da mobilidade em nossa cidade.

O primeiro seminário acontecerá no próximo dia 01 de março, terça-feira, das 9h30 às 12h30, no auditório do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, na rua Genebra, 25 - Centro , e terá como tema “Os desafios dos sistemas de transporte de passageiros de alta e média capacidade na cidade de São Paulo”.

Estão confirmados para a mesa:
Marcos Kassab, assessor da Presidência do Metrô que irá representar o secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Jurandir Fernando Ribeiro Fernandes; Marcos Kiyoto, arquiteto e consultor da TC Urbes na área de transportes de alta capacidade; Manuel Xavier Lemos Filho, diretor da Federação Nacional dos Metroviários (FENAMETRO) e representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB, no Conselho das Cidades do Ministério das Cidades; Ailton Brasiliense Pires, assessor da diretoria de planejamento da CPTM e presidente da ANTP; o engenheiro Edilson Reis, coordenador do Comitê Temático "Cidade em Movimento" do Conselho Tecnológico do SEESP -Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo; Epaminondas Duarte Júnior, assistenta da Diretoria de Planejamento e Expansão dos Transportes Metropolitanos do Metrô, e o coordenador da secretaria Executiva da RNSP, Maurício Broinizi Pereira.

Os próximos seminários previstos terão com tema:
– Maio: O desafio do transporte público – ônibus e corredores
– Setembro: Os modais não motorizados – (ciclistas, pedestres/saúde/acidentes)
– Novembro: Orçamento da cidade de São Paulo e do Estado para as áreas de transportes e mobilidade urbana.

Após o seminário, o público poderá participar do debate.

Inscrições gratuitas pelo e-mail: andrea@isps.org.br
Horário: 1 março 2011 de 9:30 a 12:30
Local: auditório do Sindicato dos Engenheiros do Estado de SP
Organizado por: GT Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Tentativa de homicídio contra ciclistas em Porto Alegre

Toda última sexta-feira do mês, diversos ciclistas se reúnem e seguem um roteiro por algumas ruas de Porto Alegre. Eles formam um grupo, mas na verdade juntam mais de 100 pessoas. Eles se juntam porque têm uma motivação em comum: usam bicicleta como meio de transporte e querem que esse seu direito seja respeitado.

A maior prova de que esse direito não é respeitado aconteceu nesta última sexta-feira (25) com a Massa Crítica, como é chamada a manifestação. Um carro com dois homens dentro, segundo alguns ciclistas, não gostou de ter o trânsito atrapalhado por aquilo que eles provavelmente não consideram um meio de transporte. Não temos como ter certeza sobre o que eles pensam ou deixam de pensar porque não houve chance de perguntar: os homens fugiram logo depois do ocorrido que vou contar agora, mas que já estampa jornais e páginas da internet.

Por causa da chuva, a massa crítica de fevereiro não tinha tanta gente como de costume. Mais ou menos 100 pessoas se juntaram no Largo Zumbi dos Palmares ontem no fim da tarde. Normalmente, chega a juntar cerca de 130 pessoas, incluindo muitas crianças. A massa estava saindo para a rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa, bem no começo do trajeto. “Como era muita gente, acabamos tomando a rua inteira”, contou Marcelo Guidoux Kalil, 31 anos, que participava da Massa Crítica pela primeira vez. Ele conta que alguns ciclistas ficaram para trás para conversar com os motoristas e explicar o que ocorria, pedindo um pouco de calma, porque o trânsito seria liberado logo.

Mas um dos motoristas não gostou da história e começou a encostar o para-choque do carro na traseira das bicicletas, segundo Marcelo. “Ele achava que a gente não podia estar ali, deve ser daqueles que acham que bicicleta não é meio de transporte”, disse.

Os ciclistas pararam para ver o que acontecia. Irritado, o dono do Golf preto acelerou e “varreu a rua”, Marcelo reforça, porém, que muito mais gente se machucou, mas acabou não indo pro hospital porque os ferimentos eram leves. “Minha namorada levou quatro pontos no pé, mas não está nas estatísticas.” como disse uma das participantes. Às 19h12min, jogou o carro para cima da marcha. Alguns ciclistas foram diretamente atingidos, outros se machucaram pela reação em cadeia: uma bicicleta foi derrubando outra. No fim, 11 pessoas foram parar no Hospital de Pronto Socorro, de acordo com a reportagem da RBS TV.

A RBS, aliás, chama a tentativa de homicídio de “acidente”. Não há argumento que me convença do uso do termo. Não existe lógica que leve a ele. Não há qualquer questionamento possível de que possa ter acontecido de forma ocasional.

É muito importante frisar que o atropelamento foi intencional. O motorista decidiu deliberadamente acelerar e passar por cima dos ciclistas.

“Muita gente acha que a bicicleta está atrapalhando”, disse um dos participantes freqüentes da Massa Crítica. A ideia de um grupo grande sair às ruas junto todo mês é justamente para mostrar que a bicicleta é um meio de transporte e deve ser respeitado.

Apesar de estar na Massa Crítica pela primeira vez, Marcelo utiliza a bicicleta como meio de transporte há muitos anos: “vendi meu carro em 2001 pelo estresse dos motoristas, por essas questões relacionadas ao trânsito. Muito motorista é extremamente agressivo, impaciente, e o ciclista sente isso ainda mais”. Conta que é comum o pessoal xingar, buzinar, jogar o carro pra cima. Diz que a maioria nem tem conhecimento das legislações de trânsito, “não sabe que tem que deixar 1,5 metro de distância da bicicleta, por exemplo”. Não sabem também que ameaçar com o carro, como fez o motorista do Golf ao tentar encostar na traseira dos ciclistas, é infração gravíssima. O que dizer então de quem joga o carro para atropelar de propósito?

A atitude do motorista na Cidade Baixa exacerba a legislação de trânsito. O que ele cometeu foi um crime comum, de tentativa de homicídio, não uma infração.

Os participantes ressaltam, no entanto, que a Massa Crítica é uma manifestação pacífica, que o ocorrido ontem não é normal e que não se pode desencorajar. Um dos pontos mais destacados pelos veículos da RBS, a falta de aviso à EPTC, aconteceu porque a Massa Crítica não é um evento organizado por um movimento, uma entidade ou qualquer coisa do gênero. “É uma manifestação meio anárquica, o pessoal se reúne ali e sai, ninguém coordena”, disse um dos ciclistas. Apesar disso, é sempre tranqüilo e costuma ser respeitado, até porque é rápido e, convenhamos, não atrapalha ninguém numa sexta-feira às 19h. Isso sem falar que a reivindicação é completamente legítima.


É importante que o absurdo de ontem traga um questionamento, que repercuta, que incentive uma consciência crítica sobre os valores da nossa sociedade do consumo, em que o dono do carro se acha o dono da rua porque tem dinheiro, porque sim. Se as autoridades competentes vão fazer alguma coisa concreta não se sabe.

Manifestação nesta terça, dia 01/03

O pessoal do movimento Massa Crítica se encontrara na próxima terça-feira, dia 01/03, às 18h30 no Largo Zumbi dos Palmares para começarmos uma marcha às 19h para exigir um trânsito mais humano e uma cidade para as pessoas, para exigir punições rígidas ao monstrorista e a todxs outrxs motoristas que utilizam o carro de forma irresponsável (como uma arma), para exigir que os órgãos públicos parem de privilegiar a circulação de automóveis particulares às custas da qualidade de vida e DA VIDA das pessoas.