sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Vá de bike

A bicicleta pode contribuir para conter o aquecimento global na mesma proporção dos vários programas de plantio de árvores. Cerca de 80% da população anda ou viaja de transporte público ou bicicleta e só 20% de automóvel particular. Porém, esses 20% ocupam 70% do espaço das cidades. A emissão de gases pelo automóvel o torna o grande vilão ambiental e exige a transformação dos nossos hábitos, além de se ter a privatização do espaço público e ser socialmente injusto.
Não necessitamos de uma tonelada (peso de um automóvel) para transportar 70 kg (peso de uma pessoa). A preocupação com a sustentabilidade do planeta está fazendo com que o uso da bike cresça. A chegada da internet fez com que o movimento de ciclistas cresçesse e deu agilidade à organização de pedaladas e manifestações.Trouxe também uma sensação de triunfo pessoal a cada cicloativista, que sabe estar fazendo parte de um movimento global de luta pela sustentabilidade, pela redução de poluentes, por cidades mais humanas.
BICICLETAS BRANCAS
O primeiro sistema implantado no mundo foi das bicicletas brancas na Holanda. O objetivo do serviço - que já existe também na Noruega, Espanha, Inglaterra, Suécia, França, Estados Unidos, Itália e México - é oferecer uma nova modalidade de transporte público na cidade. O projeto de bicicletas públicas em São Caetano tem como diretriz tornar-se promotor do transporte sustentável e de forte coesão social.
A bicicleta não polui, não ocupa grandes espaços e permite o deslocamento mesmo com a lentidão do trânsito. Em determinadas vias, com a disponibilidade de ciclovias ou ciclofaixas, o ganho da bicicleta sobre o veículo é considerável. Além de melhorar as condições de fluidez das vias, bem como para incentivar a prática de atividades saudáveis pela população como forma de prevenir doenças e evitar o sedentarismo
SANCABIKE
Domingo (30), São Caetano passa a ter um sistema de transporte público de bicicletas. O são-caetanense agora tem mais uma opção de transporte. Quem não quiser enfrentar o trânsito em um carro ou no transporte coletivo, pode circular pela cidade pedalando uma bicicleta.
O SancaBike é o programa que disponibiliza bicicletas grátis à população por 45 minutos. A previsão é de que centenas de pessoas utilizem o sistema por dia. O serviço irá disponibilizar, inicialmente, 70 bicicletas para a população. Com seis estações localizadas em alguns bairros da cidade, o projeto denominado a SancaBike pretende expandir em breve para 300 bicicletas.
SancaBike vem incentivar a população a utilizar a bicicleta como meio de transporte.
O projeto piloto desta iniciativa tem o fato de que propor uma futura integração entre o sistema de bicicletas e a rede de transportes públicos e no futuro, integrar com ônibus municipais, com o trem e com o monotrilho. A pessoa poderá descer no terminal e pegar a bicicleta como um complemento para o transporte público. Espera-se que com o serviço, distâncias que normalmente eram percorridas a pé passem a ser feitas com as bicicletas.
Na segunda etapa, em outubro e novembro, mais estações serão implantadas, e suas localizações serão determinadas por estudos que estão sendo realizados pela Semob (Secretaria de Mobilidade), da Prefeitura.
É um caminho sem volta, pois a demanda por veículos tem crescido exponencialmente e a capacidade de oferta viária, de um modo geral, não consegue acompanhá-la. O uso privado do espaço público vem impactando negativamente na qualidade de vida das pessoas.
Enfim, cada bicicleta a mais que circula ajuda a aliviar a pressão por viagens nos automóveis particulares.
Vá fazer um test drive na Keneddy domingo!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Mobilidade nas Eleições Municipais

Os pontos de estrangulamento verificados no trânsito das cidades médias e grandes e a qualidade de transporte de massas são questões que estão sendo colocadas nos debates eleitorais deste ano. Não necessitamos elaborar grandes teses para perceber que a mobilidade urbana demanda pesados investimentos públicos e privados na construção de linhas de metrôs, corredores de ônibus, vias de trens leves, bondes, ciclovias e estacionamentos subterrâneos ou elevados.
90% dos subsídios federais para transporte de passageiros são destinados à aquisição e operação de carros e motocicletas. Mais de 3 milhões de carros e 2 milhões de motos vendidos anualmente e a previsão é que, em 2015, esses números dobrem. A falta de políticas públicas para a mobilidade urbana provocou uma queda de cerca de 30% na utilização do transporte público no Brasil nos últimos dez anos. O uso de automóveis nas grandes cidades cresce 9% ao ano, enquanto o de motocicletas dá saltos de 19%. Defendo que as pessoas pensem como utilizá-los.
Difícil solução, pois é determinada também por uma ampla mudança de mentalidade, para quem o prefeito – dentro dos limites impostos pelo orçamento – deixe de ser um mero síndico de condomínio para se tornar um grande agente do desenvolvimento econômico local. Demanda superar discursos e perceber onde se encontram os recursos necessários para o enfrentamento deste desafio e capacidade política de percepção da relação entre o local, o regional e o nacional.
É importante desenvolver planos de transporte urbano integrados para as grandes cidades, para garantir um sistema de transporte inclusivo. Se não houver investimento imediato para solucionar a questão da mobilidade urbana, o futuro das cidades brasileiras estará comprometido.
Precisamos mudar essa questão da cultura do carro, como objeto de status, ou a imagem da bicicleta como algo de alguém que não tem dinheiro para comprar um carro. Precisa ser superada essa ideia, para que a gente possa ter pelo menos nos pequenos fluxos a utilização da caminhada, da bicicleta e não necessitar do uso do carro. A solução para resolver o tráfego intenso é investimento no transporte coletivo. É urgente tirar o usuário do automóvel e levá-lo para o transporte coletivo. Essa é alternativa encontrada nas cidades européias. Nem as grandes obras vão resolver o problema do trânsito. Não há recursos suficientes, nem há espaços para acondicionar os veículos.
Defendo que os novos governos municipais facilitem a vida de quem consegue deixar o carro em casa e dificultem a vida dos que usam automóveis. Isto faz parte de uma política pública sustentável. Diminuir vagas de estacionamento nas ruas e cobrar mais pelo uso da rua em determinados horários é fundamental. O dinheiro deve ser usado para a priorização do transporte público eficiente, rápido barato e confortável. Vamos utilizar os espaços das áreas de estacionamento para ampliar as calçadas, implantar ciclovias, ampliar os espaços para os idosos, cadeirantes e para as crianças brincarem.
A fumaça que sai dos escapamentos é responsável por 40% da poluição nas maiores cidades do país. E mais: o transporte, sozinho, já representa 9% das emissões de gases do efeito estufa. Há estudos que já relacionam a poluição com casos de câncer e doenças do coração. Soluções imediatas no trânsito, que a cada dia recebe novos veículos, não são fáceis, mas repensar o modelo de transporte nas cidades está mais do que na hora. Eu acho essencial o trabalho da engenharia de trânsito na proposta de soluções viáveis. Por isso é importante ter conhecimento do que o candidato propõe para melhorar o trânsito e o transporte coletivo, porque sem resolver um não há como resolver o outro. Portanto, qualquer medida viável para reduzir o número de veículos em circulação traz um efeito positivo, sem dúvida. A sociedade deve despertar para isso logo e ter consciência da necessidade do uso mais racional do automóvel. Vote em quem têm propostas sustentáveis.
Cristina Baddini Lucas
Assessora do MDT, colunista do Diario do Grande ABC (Coluna De Olho no Trânsito)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mas, afinal, qual pedágio urbano?

Artigo de Rogerio Belda discute as alternativas de mobilidade urbana nas cidades e a proposta de pedágio urbano em São Paulo, apontando os investimentos em transporte público e as experiências Londres, Nova York e Estocolmo.
O transporte nas grandes cidades brasileiras, neste início de século, está marcado pela predominância do uso do automóvel sobre outros modos de transporte. É uma tendência que se agrava como consequência da despercebida política de fazermos do automóvel a forma prioritária da circulação nas cidades. De fato, fomos do bonde para o ônibus e deste para os carros, movimento de substituição que ainda não encontrou o seu limite. Porém, se toda a população de uma cidade pudesse ter e usasse seu automóvel nas viagens diárias, o espaço urbano dedicado às vias, viadutos, estacionamentos, oficinas, postos, lojas e depósitos seria maior que o território normalmente ocupado pela cidade. Trata-se, portanto, de uma impossibilidade física. Se bem que algo parecido já foi tentado empiricamente em cidades norte-americanas, mas falam agora em gestão da demanda, retorno ao centro e revitalização dos transportes públicos.

Teremos no Brasil que percorrer o mesmo caminho para aprender a lição? Pelo ânimo dos atuais e potenciais donos de automóveis, caminhamos para o mesmo impasse. Há uma crença difusa de que é dever dos governantes encontrar meios e jeitos para que mais carros possam trafegar. Quem tem discernimento para ver e julgar as formas que já foram tentadas percebe que não há mais soluções evidentes exceto a dos transportes públicos.

Como muitos automóveis foram comprados, espero que seus donos não ressuscitem a conclusão de que agentes de trânsito provocam congestionamentos, posto que são sempre vistos onde há problemas. Ou que existe uma indústria de multas prejudicando inocentes infratores. Essa é uma das mais persistentes “lendas urbanas” como as afirmações de que ler em ônibus em movimento provoca descolamento da retina, comer abacate aumenta o colesterol e que entrar em um carro se está quase no paraíso...

Estamos em um ano eleitoral e o tema do congestionamento está na pauta de discussões. Mas, nenhum político imagina que possa ser eleito propondo medidas de restrição ao uso de automóveis. Contrariando essa posição, um grupo de técnicos defende uma nova solução: o pedágio urbano. Argumentam que aqueles que provocam sobrecarga de um bem público devem pagar pelo seu uso. E, como já não é mais aceitável tarifar o trânsito através do combustível, por causa da explosão dos preços do petróleo, a solução é o pedágio urbano, medida pioneira em Cingapura, sucesso em Londres e última moda em Estocolmo. Qual exemplo serviria para nós? O pedágio urbano pode ser cobrado pela entrada em um perímetro, pela circulação em uma área definida ou pelo acesso a uma via, como existe em Nova York.

No caso de Londres, onde o pedágio era cogitado desde a década de 1960, muitas outras medidas foram adotadas antes da sua implantação em 2003, ter sido incluído na plataforma de Ken Livingstone, prefeito eleito no ano 2000. Os problemas que eram temidos não ocorreram, mas foram surpresas: a receita, menor que a esperada, e o custo de operação, o dobro do estimado.

Como seria um pedágio paulistano? Cobrança no perímetro do centro expandido? Cobrança pelo acesso à Avenida 23 de Maio ou pelo tráfego de passagem nas marginais? Ou cobrança para circular na Vila Olímpia, cuja área do sistema viário é inferior à demanda gerada pelo “boom” imobiliário?

Para pensar a respeito será necessário lembrar o que já foi feito em São Paulo, e até esquecido, como as ruas de pedestre do prefeito Olavo Setúbal e o escalonamento de horários da prefeita Luiza Erundina. Será necessário dar continuidade à adoção de técnicas de gestão da circulação, como o rodízio de placas, horário para a circulação de cargas e a implantação dos corredores de ônibus realizada nas últimas décadas. Reconhecer que adotar o pedágio urbano, isoladamente, não é solução, e que devem ser consideradas também outras medidas de Gestão da Demanda, já mencionadas nos planos metropolitanos de transporte e avaliadas em estudo preliminar do Banco Mundial com a Prefeitura de São Paulo.

Rogério Belda foi o primeiro diretor executivo da ANTP; ex-Diretor de Planejamento do Metrô de São Paulo; atual membro do Conselho Diretor da ANTP.