Os pontos de estrangulamento verificados no trânsito das cidades
médias e grandes e a qualidade de transporte de massas são questões que
estão sendo colocadas nos debates eleitorais deste ano. Não necessitamos
elaborar grandes teses para perceber que a mobilidade urbana demanda
pesados investimentos públicos e privados na construção de linhas de
metrôs, corredores de ônibus, vias de trens leves, bondes, ciclovias e
estacionamentos subterrâneos ou elevados.
90% dos subsídios federais para transporte de passageiros são destinados
à aquisição e operação de carros e motocicletas. Mais de 3 milhões de
carros e 2 milhões de motos vendidos anualmente e a previsão é que, em
2015, esses números dobrem. A falta de políticas públicas para a
mobilidade urbana provocou uma queda de cerca de 30% na utilização do
transporte público no Brasil nos últimos dez anos. O uso de automóveis
nas grandes cidades cresce 9% ao ano, enquanto o de motocicletas dá
saltos de 19%. Defendo que as pessoas pensem como utilizá-los.
Difícil solução, pois é determinada também por uma ampla mudança de
mentalidade, para quem o prefeito – dentro dos limites impostos pelo
orçamento – deixe de ser um mero síndico de condomínio para se tornar um
grande agente do desenvolvimento econômico local. Demanda superar
discursos e perceber onde se encontram os recursos necessários para o
enfrentamento deste desafio e capacidade política de percepção da
relação entre o local, o regional e o nacional.
É importante desenvolver planos de transporte urbano integrados para as
grandes cidades, para garantir um sistema de transporte inclusivo. Se
não houver investimento imediato para solucionar a questão da mobilidade
urbana, o futuro das cidades brasileiras estará comprometido.
Precisamos mudar essa questão da cultura do carro, como objeto de
status, ou a imagem da bicicleta como algo de alguém que não tem
dinheiro para comprar um carro. Precisa ser superada essa ideia, para
que a gente possa ter pelo menos nos pequenos fluxos a utilização da
caminhada, da bicicleta e não necessitar do uso do carro. A solução para
resolver o tráfego intenso é investimento no transporte coletivo. É
urgente tirar o usuário do automóvel e levá-lo para o transporte
coletivo. Essa é alternativa encontrada nas cidades européias. Nem as
grandes obras vão resolver o problema do trânsito. Não há recursos
suficientes, nem há espaços para acondicionar os veículos.
Defendo que os novos governos municipais facilitem a vida de quem
consegue deixar o carro em casa e dificultem a vida dos que usam
automóveis. Isto faz parte de uma política pública sustentável. Diminuir
vagas de estacionamento nas ruas e cobrar mais pelo uso da rua em
determinados horários é fundamental. O dinheiro deve ser usado para a
priorização do transporte público eficiente, rápido barato e
confortável. Vamos utilizar os espaços das áreas de estacionamento para
ampliar as calçadas, implantar ciclovias, ampliar os espaços para os
idosos, cadeirantes e para as crianças brincarem.
A fumaça que sai dos escapamentos é responsável por 40% da poluição
nas maiores cidades do país. E mais: o transporte, sozinho, já
representa 9% das emissões de gases do efeito estufa. Há estudos que já
relacionam a poluição com casos de câncer e doenças do coração. Soluções
imediatas no trânsito, que a cada dia recebe novos veículos, não são
fáceis, mas repensar o modelo de transporte nas cidades está mais do que
na hora. Eu acho essencial o trabalho da engenharia de trânsito na
proposta de soluções viáveis. Por isso é importante ter conhecimento do
que o candidato propõe para melhorar o trânsito e o transporte coletivo,
porque sem resolver um não há como resolver o outro. Portanto, qualquer
medida viável para reduzir o número de veículos em circulação traz um
efeito positivo, sem dúvida. A sociedade deve despertar para isso logo e
ter consciência da necessidade do uso mais racional do automóvel. Vote
em quem têm propostas sustentáveis.
Cristina Baddini Lucas
Assessora do MDT, colunista do Diario do Grande ABC (Coluna De Olho no Trânsito)
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