segunda-feira, 13 de junho de 2011

Faixa de pedestre, por Alexandre Garcia


Na maior cidade do país, começaram agora uma campanha pela faixa de pedestre, que ninguém respeita.
Com frequência ouço relato de motoristas brasilienses, acostumados no respeito à faixa, que sofreram colisões na traseira de seus carros porque pararam para o paulistano passar. Em Brasília, o respeito à faixa foi resultado de uma política firme, que contou com o apoio da população.
As faixas foram repintadas e vigiadas por policiais ou agentes do Detran, para multar quem não parasse para o pedestre passar. Funcionou, mesmo antes do atual código de trânsito.
O problema é que alguém resolveu inovar, sem pensar muito nas consequências. Inventou o tal sinal de vida, recomendando ao pedestre que levante o braço para sinalizar o desejo de atravessar.
O erro está em que isso transferiu ao motorista a ideia de que o pedestre está pedindo licença para usar a faixa. Portanto, a faixa não é do pedestre, mas do motorista. Com isso, a conquista se esmaeceu, perdeu força. Já vi muita gente com os braços ocupados impedida de atravessar a rua: senhoras com um bebê num braço e uma bolsa no outro, gente de muletas ou carregando malas nas duas mãos. No mundo civilizado, o primeiro passo na faixa é sinal de parada para os veículos.
Em Brasília, bastava estar de frente para a rua, diante de uma faixa, para os carros pararem. Agora isso já é raro.
Pois São Paulo está copiando o que deu errado em Brasília e não o que deu certo. Vai ficar na mesma. A faixa continuará do motorista, e não do pedestre.
O Código Brasileiro de Trânsito estabelece que todos os veículos, motorizados ou não, são responsáveis pela vida do pedestre.
É a tradução para a lei do princípio moral de que os mais fortes são responsáveis pela proteção dos mais fracos. Quem está protegido por uma armadura de aço é responsável por quem está protegido apenas pela roupa do corpo.
O pedestre também precisa fazer a sua parte. Não pode caminhar entre os carros — isso está expressamente proibido no código de trânsito.
Tampouco pode atravessar pela faixa onde houver semáforo e ele estiver vermelho para a travessia. Nem pode, onde houver faixa, atravessar por outro lugar. Parecem novidades, aqui neste país ainda pré-civilizado.

Originalmente publicado no jornal Em Tempo, em 07/06/2011.

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