Apesar da eficiência no modal, os ciclistas ainda preferem a bicicleta pois é mais econômica / Foto: Pedro Diogo
São pouco mais de 32 km de ciclovias (via permanente e exclusiva para usuários de bicicleta) e ciclofaixas (faixa de rua pintada para ciclistas) 824 km² que compõem o ABC, proporção que deixa a desejar na avaliação de ciclistas e especialistas. Além das poucas opções de espaço para pedalar, os usuários de bicicletas reclamam da falta de interligação entre as ciclofaixas e do desrespeito de motoristas de carros, caminhões e ônibus nas vias comuns. Apesar da deficiência no modal, os ciclistas ainda preferem a bicicleta por questões econômica e saúde.
Para o professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Creso de Franco Peixoto, a ciclovia passa a ser efetiva na questão do trânsito quando serve ao trabalhador. "Deve haver ligação entre locais próximos à moradia e pontos de transporte público eficazes", afirma. Para tornar o sistema viável, também deve haver bicicletários nestes pontos.
Em Mauá, o encarregado de ferragem Acassio de Almeida adota a magrela como meio de transporte no dia a dia. "Uso bicicleta para tudo, principalmente para trabalhar", conta Acássio, que leva 45 minutos até o trabalho em Santo André. Acassio não reclama do tempo de deslocamento ou de sair de casa mais cedo para conseguir passar ducha no corpo. A crítica é sobre a falta de ligação para ciclistas entre os dois municípios. "Não há ligação entre a ciclovia de Mauá e a de Santo André. Neste espaço sem ciclovia, há muito desrespeito do motorista e não dá para competir", afirma.
Já Carlito Fernando de Sá diz que não se atreve a pedalar na avenida Castelo Branco. "Procuro sempre ir pela ciclovia, com calma. Se não tem ciclovia, prefiro usar a calçada, porque na avenida os motoristas não respeitam", reclama o morador de Mauá, que usa bicicleta há 15 anos.
Segundo Silvana Zioni, professora de Engenharia Ambiental e Urbana, Planejamento Territorial e Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC, a organização do espaço viário privilegia o automóvel. "Ninguém discute sobre os malefícios do transporte individual motorizado e os benefícios do transporte coletivo ou não motorizado. É uma forma de acomodação", critica.
Errado
Silvana entende a construção de ciclovias como etapa para o ciclista ganhar espaço, mas não como a solução para o problema de mobilidade. "A imposição de faixas é quase uma manifestação política de que aquele espaço está reservado. Estamos tentando administrar vias públicas - que são da sociedade - nos apropriando individualmente. Se for ver a ciclovia também é uma apropriação", analisa a professora. Para a especialista, o ideal é que a bicicleta ganhe espaço nas vias, que haja convivência e até equilíbrio a favor dos transportes coletivos e não motorizados.
Para o professor Creso, a possibilidade é ideal, mas ainda está longe de ser realidade. "Acredito na ciclovia para hoje, na ciclofaixa para amanhã e na convivência entre os veículos para um futuro". O engenheiro é resistente à implantação da ciclofaixa atualmente por questões de segurança e desrespeito frequente às leis de trânsito.
Preço elevado da tarifa estimula novos adeptos
Outra reclamação latente é sobre a tarifa de ônibus. "Eu não tenho condição de pagar R$ 6,60 [preço de duas passagens] para ir e voltar do centro, trajeto que levo 20 minutos de bicicleta", afirma Carlito.
Anderson de Melo Barros adotou bicicleta para ir ao trabalho há dois anos, desde quando começou a trabalhar de garçom no Mauá Plaza Shopping. "Pagar R$ 3,30 diariamente por 10 minutos até o Centro é inviável e hoje gasto apenas R$ 5 por mês com estacionamento", conta Anderson, que gasta 15 minutos de pedaladas entre sua casa e o trabalho.
Patrick Souza adotou a bicicleta por causa da saúde há três anos. "Tenho hipertensão e quando passei a ir de bicicleta para o trabalho, diminui consideravelmente a quantidade de medicamentos", afirma o manobrista também de Mauá.
Ampliação de vias ainda está no papel
Ainda em fase de projeto, o Consórcio Intermunicipal Grande ABC segue com três frentes na formulação do Plano Cicloviário Regional: ciclofaixa de lazer, ciclovias e bicicletas de aluguel, como complemento ao transporte público.
"A ideia da bicicleta de aluguel é que, nos deslocamentos rápidos, o usuário possa pegar a bicicleta numa das estações e devolver em outra, sem custo, e complementar a viagem com trem, metrô, ou mesmo ônibus", explica Andrea Brisida, integrante do Grupo de Trabalho Mobilidade do Consórcio.
Na opinião do professor Creso, o aluguel das bicicletas deveria exigir um valor simbólico do usuário. "Assim como para os bicicletários, deve haver um custo baixo para a população valorizar o serviço", analisa.
Santo André pretende implantar ao todo 13,66 km de ciclovias, sendo que 5 km seriam só na avenida Lauro Gomes. As outras rotas passariam pelas avenidas marginal ao Córrego Taioca e Firestone, além da Estrada do Pedroso no trecho do parque e a via projetada paralela à linha férrea, entre a rua Itambé e a avenida Presidente Roosevelt.
Já em São Bernardo se encontra em estudo a implantação de ciclofaixa de lazer aos domingos, num total de 4 km, entre as avenidas Aldino Pinotti e Lauro Gomes até a rua Sérgio Vieira de Melo. Outro projeto é a instalação de ciclofaixa de lazer na avenida Kennedy.
Jornal Repórter Diário (Colaborou Nathália Blanco)
Acho que a ciclovia poderia até ser usada para lazer,mas o ideal é a conscientização,fiscalização e posteriormente a punição para motoristas que desrespeitam o direito de a bicicleta poder circular nas vias.Ao construir-se ciclovias em alguns trechos ,passa a impressão aos motoristas que ciclista só pode circular nela,e não nas ruas.
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