quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Foi mesmo um dia sem carro?


Com maior ou menor adesão da população, 58 cidades brasileiras participaram do Dia Mundial sem carro, que surgiu na França em 1998. Mesmo que muitos carros tenham saído das garagens, eventos esportivos e culturais espalhados pelas cidades trouxeram à tona muitas questões da vida urbana, do Norte ao Sul do país.

A pausa para reflexão sobre prejuízos da crescente frota de carros, a opção pelo transporte individual, a poluição, a falta de áreas verdes e de espaços para práticas de esportes pode, sim, servir de ponto de partida para o aumento da consciência dos cidadãos e do poder público, para que alternativas e soluções surjam para os outros 364 dias do ano. "Com certeza vários segmentos da sociedade criam novas idéias nesse momento de reflexão. E os projetos surgem com mais força. Até o prefeito está engajado", diz Vera Lúcia Gonçalves da Silva, do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis.

Neste ano, a capital catarinense teve a sua terceira edição do Dia Mundial Sem Carro. "Esse foi o ano de maior sucesso e, sem dúvida, a tendência é de crescimento". As ruas do centro foram fechadas para que pedestres, esportistas e ciclistas ocupassem os lugares dos carros e o uso do transporte público aumentou. Difícil contabilizar o número de pessoas que participou da programação da cidade, que contou com caminhada cultural pelo centro, jogo de basquete para deficientes e até apresentação da Escola de Ballet Bolshoi, no Largo da Catedral. "O que falta é espaço para que as pessoas possam viver a cultura e o seu contato com a cidade. Quando você caminha ou pedala, cria outra forma de ver a cidade", diz Vera. Florianópolis tem um carro para cada dois habitantes. Com cerca de 400 mil pessoas, a cidade tem projetos para desenvolver mais ciclovias e "mudar a cidade para as pessoas e não para o automóvel".

Existem, até, cidades onde a data 22 de setembro agora é lei, como Americana (SP), Paraná, Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG). A capital mineira participa desde a primeira jornada brasileira do "Na Cidade Sem Meu Carro", que está na sétima edição. "A redução do número de carros não foi grande e a gente não tinha a ilusão de que o número ia ser significativamente menor. Mas a participação das pessoas e a criação do Comitê pela Mobilidade Sustentável vão além de um dia sem o meu carro", afirma Edurado Lucas, gerente de educação para o Trânsito da BHTrans. Duas ruas perto da Praça Savassi, ponto importante na região centro-sul de Belo Horizonte, foram fechadas para o trânsito de veículos. A paisagem cinza, de carros e asfalto, foi substituída por grama (natural!). Houve também um show de MPB, pedalada e manifestações para chamar a atenção do aumento da poluição veicular. A frota da cidade cresceu 4,5% somente este ano, tornando a cidade, que tem cerca de 2,4 milhões de habitantes, mais lenta - e mais poluída. "Tivemos cobertura da mídia e mídia espontânea. Essa discussão é muito importante", conta Lucas, que acredita que 15 mil pessoas passaram pela praça.

Em Porto Alegre, a data comemorativa foi cancelada por motivos de força maior: a chuva. Já no Rio de Janeiro, o sol favoreceu o passeio de cerca de 200 ciclistas, entre o Leblon e Copacabana. A CET- Rio fechou as ruas de acesso à orla e os ciclistas puderam entrar com suas bicicletas no metrô. No fim do passeio, em Copacabana, a Secretaria de Saúde montou um espaço para orientar as pessoas sobre o benefício da caminhada e da bicicleta, não somente para a saúde como, também, para o meio ambiente.


Isabel Abreu Braga


Cristina Baddini Lucas

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