SÃO PAULO - Não existe categoria que desperte no conjunto da população tanta animosidade quanto a dos motoboys. Sim, é uma animosidade de mão dupla. O inferno, para eles, somos nós -tiozinhos e dondocas nos carrões, taxistas e ônibus, cada qual disputando a primazia sobre o asfalto escasso.
Verdade seja dita, também é difícil encontrar entre os paulistanos quem nunca tenha usado a agilidade desses ninjas ensandecidos para resolver um problema "urgente". Mas não importa. Inconsequentes, agressivos, ameaçadores - essa é a imagem que temos dos motoboys.
Ela vem frequentemente associada à fantasia de que sob cada capacete se esconde um marginal. Nos semáforos ou entre as faixas, parados ou voando, eles suscitam sentimentos que vão do medo à hostilidade aberta. Os motoboys exprimem como ninguém um trânsito assustado e próximo do colapso, do qual são causa e consequência.
Nenhuma grande cidade do mundo resolveu seu trânsito incentivado o uso de motos. É um veículo perigoso, individualista ao extremo, além de barulhento e poluente. E há motos demais em São Paulo. Em 2000, eram 348 mil. Hoje, já são 824 mil, mais do que o dobro.
Segundo o repórter Alencar Izidoro, estudioso do assunto, os motoboys representam apenas 20% desse total - são entre 150 mil e 200 mil, embora mais visíveis porque circulam nervosos o dia todo. Em 2009, morreram na capital 428 motoqueiros, quase o dobro dos mortos em acidentes de carro (222).
A prefeitura anunciou que em breve ficará proibida a circulação de motos em boa parte da extensão da avenida 23 de Maio e na pista expressa da marginal Tietê. Será inaugurado, em contrapartida, um corredor exclusivo para motos na rua Vergueiro. Na avenida Sumaré, onde existe a motofaixa desde 2006, 83% dos acidentes entre 2007 e 2009 envolveram motos.
As medidas "restritivas" de Kassab contarão com a simpatia da população. Mas a experiência indica que continuaremos a enxugar gelo.
Fernando de Barros e Silva. Editor do caderno Brasil da Folha de S.Paulo
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