terça-feira, 13 de abril de 2010
Poeira tóxica acumulada em residências
A poeira da sua casa pode representar um grande risco à sua saúde. Essa foi a conclusão de recente pesquisa realizada em residências de quatro bairros da região norte de São Paulo. A análise de amostras de poeira doméstica mostrou grandes quantidades de componentes químicos, como metais pesados e aditivos usados na fabricação de plástico. Essas substâncias provocar anemia, alergias, distúrbios endócrinos e até mutações genéticas.
Segundo a química Valdirene Scapin, que realizou o estudo em seu doutorado no Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), a ideia de analisar a poeira doméstica surgiu a partir de sua própria experiência com a limpeza da casa. “Assim como eu, várias outras donas de casa precisam saber o que esconde a poeira com que elas lidam todos os dias”, diz.
Dentre os compostos químicos encontrados na poeira, estavam metais como cobre, chumbo, zinco e níquel, além de ftalatosPara a pesquisa, orientada pela química Ivone M. Sato, do Ipen, foram coletadas amostras de poeira em ambientes fechados de residências de áreas próximas a indústrias, aterros sanitários e rodovias, para avaliar o nível de contaminantes presentes no material. Com o auxílio de um aspirador de pó e filtros de papel, os próprios moradores coletavam a poeira de janelas, do chão, de tapetes e de móveis.
Depois, os pesquisadores identificaram os componentes orgânicos e inorgânicos presentes no material. Dentre os compostos químicos encontrados, estavam metais prejudiciais à saúde, como cobre, chumbo, zinco e níquel, além de ftalatos, grupo de substâncias orgânicas industriais presentes em plásticos, cosméticos e têxteis.
A análise da poeira retirada de residências paulistas, feita com um agitador eletromagnético, identificou a presença de metais tóxicos e substâncias nocivas usadas na fabricação de plásticos, cosméticos e produtos têxteis. A análise mostrou que a quantidade de zinco, cobre, chumbo e níquel encontrada na poeira doméstica é de 664 a 3.721 vezes maior do que os valores totais a que os adultos normalmente podem estar expostos em locais fechados. Esses metais podem causar náuseas, diarreia, anemia e alergias e até representar riscos mais sérios à saúde, como danos ao sistema nervoso central e aos órgãos internos.
Segundo Scapin, a presença desses metais pesados pode estar relacionada aos hábitos dos residentes e a fatores externos. O chumbo, por exemplo, pode aparecer devido ao uso de cerâmica, vidros, baterias ou inseticidas. Outros elementos podem migrar para as residências a partir de sapatos e roupas que tiveram contato com o meio exterior.
Os grandes vilões do plástico
A pesquisadora também encontrou altas concentrações de ftalatos na poeira doméstica. “A quantidade encontrada foi surpreendente e assustadora”, confessa. Na indústria, os ftalatos (ou ésteres ftálicos) são incorporados a outros materiais para garantir maior flexibilidade aos objetos. Esses compostos são usados na fabricação de componentes eletrônicos, brinquedos, utensílios domésticos e produtos de higiene pessoal.
O contato humano com essas substâncias pode causar diversos problemas à saúde, em especial nas crianças, grupo mais vulnerávelMas os ftalatos podem se desincorporar desses materiais, migrar para o ambiente e, assim, ser absorvidos pelas pessoas. O contato humano com essas substâncias, seja por ingestão, inalação ou pela pele, pode causar diversos problemas à saúde, em especial nas crianças, grupo mais vulnerável.
Testes realizados com animais mostram diversos efeitos desses compostos, como diminuição da fertilidade em fêmeas, níveis de hormônio alterados, danos uterinos, defeitos fetais e redução da sobrevivência dos filhotes. Além disso, essas substâncias são classificadas como desreguladores endócrinos e degeneradores do fígado e dos testículos. Mas a maior preocupação em relação aos ftalatos está na sua capacidade de ativar células cancerígenas.
Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a concentração de poluentes nos ambientes internos é de 2 a 5 vezes maior que nos externos. “Como passamos de 80 a 90% do nosso tempo nesses ambientes, a preocupação deve ser ainda maior”, enfatiza Scapin. E acrescenta: “Devemos fazer um trabalho de prevenção e evitar o uso de materiais de plástico de má qualidade, preferir produtos de limpeza à base de água e garantir a limpeza dentro de casa.”
Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line
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