sábado, 15 de maio de 2010

Veja a discussão do Seminário Nacional de Mobilidade Urbana da ANTP

Se o transporte público da sua cidade tiver boa qualidade, você deixaria o carro em casa? É possível reverter seu fascínio pelo carro? Você já pensou como será o futuro das cidades e a vida das pessoas com tanto automóvel?

Essa mania parece irreversível. Somos viciados no automóvel e o governo se utiliza de vultosos recursos para universalizar o seu acesso. Bons sistemas de transporte público são essenciais para reduzir a dependência do automóvel, mas não são suficientes. É preciso também que os governos adotem medidas restritivas ao transporte individual motorizado, pois há um grave desequilíbrio entre os investimentos que toda a sociedade faz na infraestrutura rodoviária e o seu uso quase exclusivo por parte de quem anda de carro no dia a dia. É preciso taxar estacionamentos e fazer pedágios urbanos nos grandes centros, destinando os recursos arrecadados aos transportes públicos; acabar com isenções de impostos para compra de veículos; transformar os estacionamentos das vias públicas dos centros urbanos e corredores de circulação em calçadas acessíveis, faixas de ônibus; e investir permanentemente em metrôs, corredores de ônibus e VLTs (veículos leves sobre trilhos), utilizando o sistema viário existente.

Isso deve ser uma preocupação real, pois o espaço viário urbano não cresce na mesma proporção da frota de veículos, provocando um aumento dos congestionamentos e impactos diretos na qualidade de vida. Uma vez mantido as estimativas de crescimento de 2,5% da população urbana brasileira e 4% da frota de veículos da frota de veículos, se constata valores extremamente preocupantes, quando se parte do ano de 1995 quando a frota era de 25 milhões , e hoje 50 milhões , portanto um crescimento de 100% contra o da população no mesmo período de 60%, passando de 120 para 190 milhões.

Considerando essas cifras e tendo como base que os congestionamentos sobem geometricamente em relação ao crescimento da frota, em um quadro já crítico nas principais cidades brasileiras, percebe-se que o modelo de mais carro/mais sistema viário está esgotado, sendo impossível de ser suprido com os recursos do País. O caos que já se verifica atualmente em São Paulo (10 a 15 km/hora no pico) irá piorar significativamente e já está se espalhando pelas demais cidades brasileiras.

O setor de transportes urbanos tem, infelizmente, atuado de forma muito tímida, para não dizer conservadora, com relação ao seu mercado. Temos um setor que, com raríssimas exceções, parece conformar-se com a perspectiva de um transporte público sempre ruim e os governos municipais e estaduais na maior parte dos casos refratários a um trabalho que envolva o conjunto do setor (rodoviários, empresários, usuários, fabricantes) e ainda muito distantes de um trabalho que escute as demandas e expectativas da população através das pesquisas de opinião e dos serviços de atendimento aos usuários.

A expectativa é que no futuro possamos ver em nossas cidades sistemas integrados onde o usuário reduza seu tempo de viagem, sem ser penalizado com acréscimo de tempo de viagem, nos deslocamentos em pequenas distancias e no custo pago por ele para operar o sistema. Outra expectativa é que sejam qualificados os acessos a integração e aos equipamentos de integração entre automóveis, bicicletas e mesmo o pedestre que deve ter uma calçada decente para se locomover com paz e segurança.

Cristina Baddini Lucas, Especialista em Trânsito, Colunista do Diário do Grande ABC, Diretora do Instituto Rua Viva, Assessora do MDT

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