segunda-feira, 19 de julho de 2010

Acidentes com motos matam uma pessoa por dia em São Paulo


FOLHA DE S.PAULO - SP - 18/07/2010


Acelerar sobre duas rodas é desafiar a morte a cada metro de asfalto, e são muitos os que não chegam ao final da corrida. Hoje, os acidentes com motos matam pelo menos uma pessoa por dia só na cidade de São Paulo. É segunda causa de morte no trânsito. Entre as vítimas, estão muitos motoboys.

Quando, onde e por que vai acontecer o pior? O medo anda sempre junto com os motoqueiros.

O soldado Carlos Eduardo sabe disso. Ele é um bombeiro que também trabalha sobre duas rodas. "Com a motocicleta, a gente chega muito mais rápido do que com a viatura de resgate. Então, foi criado para chegar e dar os primeiros atendimentos até uma unidade de resgate chegar", explica.

Eles trabalham em dupla e levam na mochila material de primeiros socorros. Às vezes, só mesmo pela calçada para seguir em frente.

O Globo Repórter acompanhou o soldado Carlos Eduardo e chegou a um acidente de trânsito. O motoboy estava caído no asfalto. Tentou passar entre um carro e um ônibus e não deu. "Ele bateu em mim e saiu rolando. Passou uns três dedos da roda do ônibus a cabeça do rapaz", conta o motorista do carro Paulo Beraldo.

"É chocante. A gente fica com um sentimento culposo, mas fazer o quê? Acabou com meu dia hoje”, declara o motorista do ônibus Avelino de Jesus.

"Eles têm muita pressa, só querem saber de chegar e não se preocupam com a própria vida deles. Essa é nossa rotina: socorrer motoqueiros todos os dias", afirma o soldado bombeiro Carlos Eduardo.

E lá vai mais um motoboy ferido para o hospital. Na rua, as marcas vão apagar logo.

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FOLHA DE S.PAULO - SP - 18/07/2010

Frota de moto supera a de carro em metade do país



Caixa de texto: Dados mostram que em 46% das cidades veículo de duas rodas é maioria. Índice se limitava a 26% no começo da década; na média, a cada três dias um novo município entra na lista






O office-boy virou motoboy. O transporte público se rendeu ao mototáxi. O jegue deu lugar à moto. E, para escapar de engarrafamentos ou de ônibus caros, lentos e desconfortáveis, muita gente decidiu se tornar motociclista.

O fenômeno notado desde os anos 90 está perto de ganhar um status de predominante: quase metade das cidades brasileiras já tem mais motocicletas do que carros.

Mapeamento da Folha a partir de dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) mostra que 46% dos municípios, onde vive um a cada quatro habitantes do país, têm uma frota onde as motos são majoritárias. O índice se limitava a 26% no começo da década. Na média, a cada três dias uma nova cidade entrou na lista.

Embora esse domínio esteja concentrado em municípios pequenos e médios, são claros os sinais de avanço em grandes centros urbanos.

Duas capitais, inclusive, já têm as motos como preponderantes em suas frotas: Boa Vista (RR) e Rio Branco

MOTIVOS

Essa expansão mostra a consolidação de um transporte típico de países asiáticos, como Índia e Vietnã, e que é motivo de preocupação por ser vulnerável e provocar mais mortes em acidentes -além de mais poluente.

Além da má qualidade dos ônibus, a principal razão do avanço das motos é seu preço e facilidade de financiamento -há prestações de R$ 100. O fenômeno foi estimulado pelos vários níveis de governo, com queda de impostos e legalização de mototáxis.

Especialistas reconhecem a importância das motos para a mobilidade das pessoas. O resultado social, entretanto, é considerado negativo.

O número de motociclistas mortos no país saltou de 725 em 1996 para estimativas acima de 8.000 no ano passado.

O engenheiro e sociólogo Eduardo Vasconcellos cita dois agravantes da expansão desse transporte no Brasil. O primeiro é que, enquanto a população da Ásia sempre conviveu com muitas bicicletas, aqui as pessoas não sabem lidar com veículos de duas rodas -seja na travessia seja para se equilibrar.

O segundo é a mistura de motos com caminhões e ônibus. "Não tem volta. É preciso reprogramar o trânsito."

Ele se refere a ações como redução de limites de velocidade, separação dos veículos grandes e fiscalização dos infratores -hoje muitos radares não flagram motos.

"O problema não é do veículo em si, mas da educação dos condutores", defende Moacyr Alberto Paes, da Abraciclo (associação dos fabricantes de motocicletas).

O aumento da frota de carros no Brasil nos últimos cinco anos foi de 40%, menos de metade do ritmo de crescimento das motos -105%.

Mesmo assim, há mais carros (35,4 milhões) do que motos (15,3 milhões) no país devido às grandes capitais.


PROPORÇÃO


Quem vive em São Paulo pode se impressionar com a quantidade de motoboys enfileirados em grandes vias. Mas a capital paulista tem 7 motos por 100 habitantes, contra mais de 26 por 100 habitantes em Ji-Paraná, segundo município mais populoso de Rondônia -onde os ônibus urbanos não chegam a 30, contra 200 mototáxis.

Em Tefé (AM), a quantidade de motos -4.464- equivale a nove vezes a de carros. Não é à toa: sem estradas, seus acessos são feitos por barco ou avião. "É uma emoção viver nesta cidade, com tantas motos", diz a bióloga Lorena Andrade, em referência ao zigue-zague num lugar onde semáforos e faixas de pedestres são escassos.

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FOLHA DE S.PAULO - SP - 18/07/2010

Municípios têm mais veículos que habitantes



Caixa de texto: Santa Bárbara do Monte Verde tem 187 veículos para cada cem pessoas. Proximidade com o Estado do RJ, onde IPVA é mais caro, favorece registro nessa e em outras duas cidades








Santa Bárbara do Monte Verde, na Zona da Mata mineira, tem apenas quatro avenidas, uma delas sem asfalto, e 5.603 veículos -quase dois, na média, para cada um de seus 2.999 habitantes.

A cidade, a 319 km de Belo Horizonte, tem a maior proporção de veículos por habitantes do Brasil: são 187 para cada cem pessoas.

Está no bolso a explicação para Santa Bárbara do Monte Verde, que não tem nenhuma concessionária de automóveis e ficou três anos sem posto de gasolina -até um ser reinaugurado há quatro meses-, liderar o ranking.

O IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) cobrado em Minas é mais barato que no Estado do Rio, logo ao lado.

De acordo com a tabela da Secretaria da Fazenda de Minas Gerais, a alíquota do imposto para "automóveis de uso misto com autorização para transporte público", como táxi ou escolar, é de 2%. No Rio, a alíquota é de 4%.

A Folha apurou que a diferença de valores é aproveitada por empresas frotistas, que, apesar de sediadas no Rio, como nas cidades vizinhas de Rio das Flores e Valença, registram seus carros em municípios mineiros.

Além disso, em MG as taxas de primeira licença e primeiro emplacamento são mais baratas que as do Rio.

"Já teve gente que pagou R$ 350 só para emplacar seu primeiro carro no Rio. Aqui, não cobramos nada", afirmou o delegado Alexandre Pereira, diretor do Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) de Rio Preto (MG), cidade vizinha de Santa Bárbara do Monte Verde.

O município -que também não tem concessionária, mas registra 7.630 veículos e 5.631 moradores- é o segundo na média de veículos por 100 habitantes (135).

"Meus tios moram no Rio de Janeiro, mas emplacaram o carro em Santa Bárbara [do Monte Verde]. Sai mais barato ter o registro do carro aqui", afirmou a enfermeira Angélica Lourenço, 25.

Metade dos recursos do IPVA amealhados pelo Estado vai para o município arrecadador. O prefeito de Santa Bárbara do Monte Verde, Fábio Nogueira (PSC), afirma não ver problemas em receber verbas que, em tese, deveriam ir para o Rio.

"Assumi o cargo em 1º de janeiro de 2009 e a situação já era assim. Não cabe a mim controlar", disse. Segundo o prefeito, o IPVA representa 10% da receita do município.


ESPÍRITO SANTO


Uma ponte de 60 metros separa Bom Jesus de Itabapoana (RJ) de Bom Jesus do Norte (ES). Com 9.672 habitantes e uma frota de 11.802 automóveis, a cidade capixaba, que não possui loja de venda de carros, é a terceira do país na média de veículo para cem habitantes (122).

Assim como nas duas primeiras colocadas, boa parte dos carros registrados lá pertence a fluminenses. A distorção, novamente, é explicada pela alíquota do IPVA: no Espírito Santo, 2% para carro de passeio ; no Rio, 4%.

postado por: Cristina Baddini Lucas

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