quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ligações perigosas: celular no volante

Diário do Grande ABC

Motoristas ignoram legislação e usam celular
Evandro Enoshita

Dirigir e falar ao celular é uma infração média, que rende uma multa de R$ 85,12 e quatro pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Apesar desse valor representar cerca de um quinto do salário mínimo nacional, a transgressão já figura entre as mais frequentes nas cidades do Grande ABC.

Com população de aproximadamente 121mil habitantes, Ribeirão Pires, por exemplo, registrou, de 1º de janeiro a 31 de julho, 480 multas por uso de celular ao volante, superando as punições por falta do uso do cinto de segurança e por estacionamento em local proibido.

Em São Caetano, cidade com o maior PIB per capita da região, o uso do telefone móvel figura na terceira posição entre as infrações de trânsito, superado pelo excesso de velocidade e o avanço da faixa de pedestre, na primeira colocação.

Segundo o analista de segurança viária do Cesvi Brasil, André Horta, falar ao celular, mesmo que com o uso de fones de ouvido ou o viva-voz, representa um grave risco para o motorista. "Usar o telefone móvel sempre afeta a concentração. É diferente você conversar com uma pessoa que esteja ao seu lado, e outra com quem você esteja falando no viva-voz. O indivíduo do outro lado da linha não tem como adivinhar o que se passa no trânsito, diferente de um passageiro."

Segundo ele, pesquisas feitas no Reino Unido apontam que o risco de sofrer um acidente dirigindo e falando ao celular é quase três vezes maior que conduzindo um automóvel sob o efeito do álcool. "Esse levantamento apontou que enquanto o motorista digita uma mensagem ao celular, ele perde 35% da atenção no tráfego, que teria se não estivesse fazendo uso do aparelho", conta Horta. "Essa perda de atenção é de 12% no caso dos motoristas com até 0,8 g/l de álcool no sangue, o limite máximo no Reino Unido."

Desrespeito - Apesar dos perigos que cercam essa conduta, muitos motoristas parecem não se importar. Protegidos em carros com vidros escurecidos, muitos fazem o uso do aparelho celular de forma despreocupada.

O Diário esteve no final da tarde de ontem na Rua Luiz Pinto Fláquer, no Centro de Santo André, e no período de 30 minutos pôde observar 12 motoristas fazendo o uso do telefone móvel enquanto dirigiam.

Mesmo os motoristas profissionais não escapam de engrossar essas estatísticas. Motorista de taxi há 23 anos, um homem que preferiu não se identificar destacou que, algumas vezes, se vê obrigado a atender o aparelho. "Sempre procuro estacionar quando o celular toca, mas algumas vezes não dá. Quando isso acontece, eu olho para os lados para ver se não tem guardas, fecho os vidros do carro, e atendo a ligação. Vai saber se é alguem precisando de mim."

Procuradas pelo Diário, as prefeituras de São Bernardo, Mauá e Diadema, Rio Grande da Serra e Santo André não apresentaram dados sobre a infração. As duas últimas afirmam não ter informações sobre multas aplicadas em motoristas usando celular.

Multa maior não resolveria, diz jurista

Na opinião do advogado e assessor na produção do atual CTB (Código de Trânsito Brasileiro) Cyro Vidal, um possível aumento no valor das multas não irá demover os infratores a deixar de utilizar o telefone móvel no trânsito. Segundo ele, uma medida efetiva seria a melhora na fiscalização, tanto em termos de efetivo empregado, quanto no procedimento de autuação.

O aumento da punição por uso do celular ao volante é uma das propostas do projeto de lei de autoria do deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), que modifica vários trechos do CTB.

Em tramitação na Câmara Federal desde o ano passado, o projeto prevê que o uso do celular ao volante passe de infração média para gravíssima, o que elevaria o valor da multa de R$ 85,12 para R$ 315. No entanto, o uso dos fones de ouvido e do viva-voz continuaria como infração média.

"Essa é uma infração que não é agressiva. Não é a mesma coisa que dirigir de marcha ré em uma avenida e R$ 85 já é um valor considerável. O grande problema é que a fiscalização é falha. Só na Capital, são aproximadamente 3.500 pessoas para fiscalizar uma frota de 6 milhões de carros. Só para ter uma ideia, na Cidade do México, são 15 mil fiscais", destacou Vidal.

Falta de orientação - Outro problema para o jurista é a conduta dos guardas. "O correto seria que os fiscais parassem os motoristas que estivessem cometendo a infração e dessem uma orientação. É preciso que haja um projeto de educação no trânsito que comece já na infância. Agindo da maneira que eles procedem atualmente, escondidos, apenas anotando as placas dos carros dos infratores, eles estão contribuindo para o crescimento da indústria das multas", criticou Vidal.

Para o analista de segurança viária do Cesvi Brasil, André Horta, o grande problema reside na dificuldade de identificar os infratores. "Muitas vezes não dá para saber o que a pessoa está fazendo. O fiscal pode pensar que o motorista está utilizando o celular, mas ele pode estar só cantando em voz alta", pontuou.


Ligações perigosas: o uso do celular ao volante


Atualmente, não saímos de casa sem levar o pequeno aparelho eletrônico. Entretanto, pela dependência que ele trouxe em nossas vidas, habituamo-nos a utilizá-lo, inclusive em situações que geram perigo como, por exemplo, dirigindo um automóvel.
Conversar no celular quando ao volante reduz a concentração de um motorista em até 37%, levando-o a cometer tipos de erro semelhantes aos ocorridos quando se dirige embriagado, de acordo com estudo da Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia.
A concentração é a principal afetada quando o motorista utiliza o telefone celular enquanto dirige. Até mesmo o pedestre que usa o celular perde a concentração e passa a não observar os outros veículos e se mete em situações de risco que pode resultar em um acidente grave ou até fatal.

O uso de celulares para conversar, discar e enviar texto tem sido motivo de preocupações ligadas às questões de segurança, mas este estudo, pela primeira vez, usou imagem de ressonância magnética do cérebro para documentar o efeito do simples ato de ouvir o interlocutor durante uma ligação.

A redução da atividade cerebral associada à direção de um veículo pode levar o motorista a se mover de uma pista para outra de maneira errática. Este é um erro comum entre motoristas embriagados.

As conclusões do estudo mostram que fazer ligações com celulares sem necessariamente ter que segurá-los na mão não é suficiente para eliminar a distração para os motoristas. Eles precisam manter não apenas as suas mãos na direção, mas também o cérebro concentrado na rua.
Acarreta também um probleminha de visão, segundo estudo da Universidade de Utah nos EUA. Isso significa que o motorista não enxerga sinais, outros veículos e semáforos, numa variação do que é conhecida como "cegueira negligente" (provocada pela desatenção). Os testes mostraram que esse tipo de desatenção não afetou motoristas que estavam ouvindo música ou áudio-book, ou que estavam conversando com um passageiro do carro.
Houve um risco quatro vezes maior de acidentes enquanto o motorista falava ao telefone, mesmo que o tenha utilizado cerca de 10 minutos antes do ocorrido. O risco foi igualmente alto com o uso de viva-voz ou demais acessórios para deixar a mão livre.
Vale à pena arriscar tanto?
Que tal parar o veículo em local seguro e atender o celular? É bom para o bolso, para sua segurança e para a vida.


Cristina Baddini Lucas

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